Mais um dia de verão, a brisa lá fora me traz um bom jeito de se pensar na vida enquanto tomo meu achocolatado e olho do quintal um chuvisco que molha a grama deixando rastros de sua passagem e logo se vai, olho para o céu e há nuvens cobrindo o azul, talvez em cima dessas nuvens estejam anjos brincando e olhando por nós, ou então alguém sofrendo e derramando suas lágrimas aos poucos, assim ninguém se preocupará com mais uma derrota.
Continuo a tomar meu achocolatado e quando olho novamente vejo a forma de um rosto, que parece ser insano, e muito real, pode ser que eu esteja viajando e pensando em erros cometidos há algumas semanas. E se eu me lembro disso um peso vem sobre minha mente e isso força os olhos a derramarem suas lágrimas e o que resta é achar uma maneira de curar essa dor. Sempre acho que a verdade é o melhor motivo, mas penso que nunca seria perdoada e faria duas pessoas sofrerem sem ao menos se conhecerem, e isso eu não quero, me sentiria culpada mais uma vez.
Reviver o passado não é bom, e no mundo que vivo penso sempre no amanhã, mas como pensar no amanhã com tranqüilidade se o hoje não está bom por causa do ontem? É isso que me prende nas lágrimas, eu não tenho um espaço, uma saída e acho que na verdade eu não tenho outra escolha se não for confessar meu crime. Então tomo uma iniciativa, olho para o celular e começo a discar repenso e desligo, eu sei que eu tenho que confessar isso a qualquer custo, então a única solução é a bebida. Eu me acho à pior pessoa do mundo tendo que me embriagar para conseguir confessar algo, mas é o único jeito. Isso se repete várias vezes ao dia, e eu não me canso de pegar a vodca dentro do armário ou o uísque na sala de jantar para aliviar a dor e fazer outra pessoa renascer a partir de alguns goles. Eu começo a beber e choro, sim, muitas vezes eu choro e no desespero da dor naquela casa sozinha eu coloco uma musica nada romântica, apenas consoladora que me faz viajar em outro mundo e conhecer pessoas. Eu sei que isso é ilusão, é a bebida que me faz viver esses momentos fantásticos, mas pra mim de alguma forma é real e que alguma vez eu estive ali conversando com várias pessoas, mesmo sozinha em minha casa.
Depois de umas três doses de uísque pego novamente o celular, já não vejo mais os números com lucidez, mas ainda consigo discar para ela e tentar falar tudo que eu fiz.
Ela atende e eu apenas pergunto se está tudo bem e ela diz que sim, então começamos a conversar ela me conta as novidades e me diz com um tom alegre sobre ele, isso me aperta por dentro e dói, é como se ela estivesse dando uma noticia de morte. Pra mim é triste de estar enganando-a, já que para ela eu pareço ser a melhor amiga que já teve em estar ajudando, mesmo que por dentro seja falsidade da minha parte. Eu começo a diminuir o assunto e logo desligo e outra vez eu não tive coragem para confessar tudo que está engasgado e ela sabe que está acontecendo algo, mas não faz questão de saber o que é.
Já ele mantém contato comigo e não se força para dizer que gosta dela. É nós tivemos aquela noite inesquecível e mesmo sendo apenas uma nós sabemos que irá durar para sempre. Ele me liga e me pergunta se está tudo bem, eu sou sincera afinal ele tem que saber o que está acontecendo, eu tento me afastar dele tento ser fria, mas como farei isso se ele me cerca nos pensamentos, ligações e sites de relacionamentos? E ainda temos que fingir que nada disso acontece para vê-la feliz.
É isso que me dói ter que mentir e sofrer para vê-la feliz e tudo isso por causa de uma noite de festas e bebidas, onde eu e ele nos encontramos por acaso sem ninguém saber, e sem mesmo nós dois sabermos que depois de tudo isso não esqueceria um ao outro.
Mas um dia se vai, e mais uma chance de voltar a vida normal também se vai, vamos deixar isso para amanhã, quem sabe para a semana que vem, ou talvez eu e ele nos encontraremos escondidos e ninguém precisará saber nada, apenas eu e ele.
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